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O frio cai monocromático sobre meu corpo, espalhando impulsos nervosos que me fazem retorcer os dedos. Nenhum dos vinte escapa. Não há barras de ferro ou pedaços de madeira à minha volta, o máximo que posso fazer, então, é destinar meu olhar para o centro da terra, onde minhas lágrimas batem e rebatem, ecoando uma sinfonia-doente que, fascinada por si mesma, clama por mais lágrimas.
Já é difícil até de me apoiar nos joelhos e olhando para baixo sinto algum resto de sangue ou um tumor, não sei ao certo, se dirigindo à minha cabeça. A dor é essencial neste momento, ela é que me faz sentir vivo e lembrar que não sou o único que está errado, afinal, o que mais a vida é além de uma ótima idéia executada da pior maneira possível?
Mesmo apoiado no chão, meu dedo ainda se torce e por causa de uma pedra, estrategicamente mal colocada - perco uma unha descobrindo, assim, que ainda há um pedaço de carne no meu corpo que eu não tentei comer nos dias de fome.
Não há mais o que esperar. O campo já virou cidade, a menina virou mulher e os entregadores já não me entregam nada. O filme que passa diante dos meus olhos é um curta-metragem de baixo-orçamento e sem os direitos para tocar no fundo as musicas daquele sambista fanho. Mais uma vez centro os meus olhos no cimento-seco que, de tanto me agüentar, sinto como se já fosse meu e mergulho sem luxo e sem sentimento esperando o chão virar mar-vermelho. De novo, de novo e de novo.
...Abro um olho... o outro eu não consigo, não, o outro ta aberto, mas só vejo o preto. Um e dois e o frio, como se medisse em tonelada, me pressiona outra vez contra o chão.
Não há mais esperança. E olha que eu nem queria morrer, só esperava que, como num filme, eu desmaiasse e acordasse numa cama macia de fim de tarde e com um leve calor, glorioso-combatente do frio que, pouco-a-pouco me esmaga tudo-tudo.
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