Aí o dia clareou, o remendo se rasgou, e a chuva, mesmo querendo, não molhou. Na verdade, quem queria era eu. A chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.
O ruim da chuva e que ela vem no fim. Antes ainda tem o frio, o vento e o trovão. Eu já passei por tudo isso. O frio não me congelou, o vento não me levou, e o trovão, sabe Zeus porque, não me acertou.
Além disso, todo-dia, ainda tem a vida. E antes e depois da vida, a morte. E no meio da vida, em meio a tantas outras, tem a minha, que, mais ou menos no meio (um pouquinho pra esquerda) tem uma ferida, a minha ferida.
Por essa ferida é que eu agüentei o frio, fiquei no vento e encarei o trovão. Tudo por ela. Tudo por achar que a chuva ia me lavar, mas a chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.
Antes eu até contava as chuvas que eu secava. Antes de perder a conta eu até as contava, mas agora, depois de tudo (mas antes da morte), apenas fico aqui, na verdade, ficamos os três; a vida, a ferida e eu.
A vida para ser vivida, a ferida para ser lavada e - eu.
3 comentários:
Porque eu adoro este teu texto - e tu sabes.
Porque eu adoro ler-te ao som que "quizas, quizas".
Porque eu me emociono com teus textos mais do que dizes que se pode emocionar com a tua escrita.
E porque eu me emociono contigo mais do que a distância me possibilita.................................................
Mil beijos!!!!!!
Olá. Cheguei ao teu blog por indicação d eum amigo. Gostei. Muito. Dizem que comparações são ridículas. Mas a vida, em certa medida, também o é. Por isso, ouso comparar. Alguém já te disse que te pareces com Clarice Lispector na escrita? Estou delirando?
Tomei a liberdade de postar teu texto no meu blog também. Abraços.
nunca tinha ouvido isso!
Postar um comentário